domingo, 13 de dezembro de 2009

Abstração platônica II

[Won't you give me a hug
Then I'll give you my heart]

Fomos o que pudemos ser
Anos de sorrisos encabulados
Dezenas de porres em homenagem da minha parte
Uma distração interessante da sua
Fomos uma noite etílica quente, isolada
[Intensidade não é pra durar mesmo, né?]
Desiludidos, inconformados com a sorte
Um casal escapista com a boca cheia de dentes
Bocas, lembranças e gostos e cheiros
E um monte de estrelas num céu que quase foi nosso

Quase
Porque aí a noite acabou
E eu fiquei agarrando migalhas de sonho que quase...
Um vestido verde balançando ao sol num varal em algum lugar dentro da minha cabeça
Um fio de cabelo, um sorriso sincero, um aperto

Fomos o que pudemos ser
Menos do que se quis?

"Se eu cantar não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?"

sábado, 12 de dezembro de 2009

Quarta-feira

"The lack of information.
I'm punch drunk and I need to find a way back home
It'd be a miracle if you'd oblige."

Prezados colegas, sejamos realistas: São 9 horas e a noite já terminou.
Amanhã restaremos incompletos, de estômago e idéias reviradas, rostos fadigados dos sorrisos demais dessa noite que acaba agora.
Restaremos silenciosos, inexpectativos, resistindo na garganta com um gosto de debilidade feliz...morta.
Não havemos de nos apegar no agora, somos o que fomos ou quisemos ser; sonhamos extáticos, agora esperamos o coletivo passar.

Exige-se uma solução urgente... Sugestões?

sábado, 5 de dezembro de 2009

Já acabou, amor?

As luzes se apagam, eu seguro na sua cintura mais forte você puxa meus cabelos pela nuca em alguns minutos minha referência é seu coração batendo mais forte mais ouço você sinto e me vejo através das suas unhas dedos querendo me apunhalar nesse impulso morno ofegante mais forte me morde tranca suspira e sussura o que eu bem queria entender agora então é... você me querendo rasgar pelas costelas minha mão mergulha e agita e responde à altura nesse balé esquisito adentro soa gultural nossa textura surda ecoando no escuro mais forte mais ensimesmados os dois adentrados reciprocamente agoístas vendo o mundo afundar em tempestades fazia tempo que me meço em minutos rijo no seu cheiro forte nosso gosto melado trocando de boca de altura nossa febre de troca exibicionista mordo circulo anseio anseio anseio muito muito você é. me murmura apertada que quer e se apóia para mim que recíproco troco e respondo firme. essa vontade violenta que você me exala em sorrisos insdiscretos. esse meu vício noite após noite
apaixonadamente vulgar e eu pulso e eu meto na medida da saudade que o coração gritar. já nem sei aonde eu termino nós dois no escuro viramos energia irrascível mutuamente puros apesar dos riscos.mais forte mais forte mais mais mais e cala a boca que alguém pode entrar aqui à qualquer minuto você me convulsiona entredentes nos meus dedos estremecendo que vem aí um grito de silêncio pleno. aí a gente se aperta pra morrer juntos por alguns segundos valiosos de intensidade inerte divina.sobramos resfolegando românticos reencarnados em afeição agora humana...falhos instantes de compaixão e nobreza bíblica.

As luzes se acendem, você se veste com os olhos mareados em sorri cantando que esse instante é pra sempre, de novo.

Eu me encosto no corrimão frio pra botar a calça e penso:
aí sim, um jeito bonito de ver uma foda rápida na escada de incêndio.

domingo, 29 de novembro de 2009

O corpo

"O corpo é a mais previsível das composições musicais: tocas aqui, desencadeias algo ali; desencadeias algo ali, provocas algo acolá. Cada corpo com a sua melodia: sempre previsível. É isso conhecer alguém: decorar-lhe as notas, as modulações, as entoações certas para cada segundo a dois. O outro lado de já conheceres, de trás para a frente e da frente para trás (literalmente: em ambos os casos), o corpo de alguém é só um: tédio. Tu sabes: uma música, ouvida vezes sem conta, não deixa de ser uma música que amas; mas não é por isso que não deixa de ser, também, uma música que, dia após dia, te custa mais ouvir. Ama-la – ama-la demais (e, de cada vez que a ouves, ganhas ainda mais consistência nessa certeza: ama-la); mas custa-te ouvi-la, custa-te continuar a ouvi-la: estás gasto dela. E não queres, em ti, gastá-la ainda mais. Então procuras: músicas novas; nem que menos agradáveis: novas. Músicas que não amas – no máximo: gostas. Mas que ouves – e que ouves como uma criança descobre um brinquedo: eufórico, entusiástico. A criança que ama um brinquedo – o brinquedo velho pousado a um canto é o que ele, mesmo não o parecendo, ama de verdade: o que ama. E é tudo. Os outros, os novos, aqueles com que ela perde o dia e os dias, são meras melodias passageiras. Ela sabe que, quando chegar a hora de escolher (e chega sempre a hora de escolher), vai escolher o velho – o que está encostado há anos num canto sombrio, mal-cheiroso e bafiento do sotão. Como tu: sabes que, por mais tédio que te cause, é aquele, o único, o amor que amas. Sabes que, quando chegar a hora de escolher, vais voltar a ele. Só não sabes – não me digas que ainda não tinhas pensado nisso – é se ele estará lá a essa hora. Excitante, não?"

-Pedro Chagas Freitas

http://pedrochagasfreitas.blogspot.com/

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Você percebe que o tempo em casa anda curto quando você chega na porta e procura o passe de metrô ao invés da chave. Freud explica.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Que é isso Zé?!

Que é isso Zé? Se prender pra quê? Justo você que não larga mão de cerveja futebol e domingo? Que tem preguiça de tomar banho e botar camisinha? Que esquece da hora do almoço esquece de dormir?
Que é isso Zé...
Vai estragar tua vida!!
Fazer o que?! Virar crente...?
Deus não olha por ninguém nesse mundo perdido de hoje não, cuida do seu, rapaz!
Arrumar emprego, casa e fazer filho de onde? Você que gasta o mês inteiro num fim-de-semana de cachaça...
E não há ONG, UNE ou ONU
Não tem Greenpeace, PT ou PSTU que mude o quadro
Você que chega em casa pra se esculachar num sofá qualquer
Entope as veias e a cabeça de gordura cinza
Claustroagorafobico, tem prisão de ventre, bronquite, ansiedade, hipocondria
Que chama a namorada de mãe e cheira uma carreirinha de vez em quando só pra curtir uma vibe
Quer vida simples? Não tem jeito Zé... Morar no interior não melhora em nada essa bunda-molice, fora que você não leva jeito pra plantar batata por aí!
Assume logo essa porra! Sua falta de personalidade, bota pra fora que você não quer nada com nada mesmo.

Só os imbecis(Talvez os autistas) são felizes.

sábado, 24 de outubro de 2009

O meio.

"Eu não bebo pra esquecer, bebo pra lembrar
bebo e cambaleio e tenho você ao meu lado
é o meu instante de felicidade
vou andando na neblina das ruas
conversando com você
cantigas da perdida felicidade

Seu perfume se perfume se mistura
ao cheiro bom da madrugada
sua mão nem pesa no meu braço
mas seu contato é doce, doce!
e o rumor do seu passo é música!
música pura!
Só não vejo você, mas não faz mal
com você do meu lado isso me basta

E lá vou eu andando na neblina, feliz
até cair..."

Uma dose de fogo.
Esse calo que a gente faz do tempo
inútil. Nada desconstrói a surpresa
ou...?

Séptico. Limpo.
Esse anéstesico de boteco desce queimando
instável. Só sobram calores

momento
...!

Foco no chão.
Esse abrigo tão vulnerável das horas
insones. Fica o que há de resto
vontade.

O santo das pessoas desesperadas

"Na passarela do vale do Anhangabaú
eu vi hoje cedo pessoas escondidas da vida
embrulhadas no Notícias Populares
Diário, Folha e o Estado de S. Paulo
Depois que atravessei o Vale
percebi que minha linguagem estava solta e simples
como um vidro quebrado que a gente passa no pulso
para abreviar o futuro.
A linguagem
se fez tão próxima do poema
como se fosse uma imensa raiz furando
cada vez mais a terra para alimentar-se
e fazer da árvore um guarda-chuva.
Está doendo a dor das sombras
e a manhã é fria e clara como um lago
onde patos poderiam nadar seus silêncios.

Nada disso há no entanto
apenas as folhas e jornais, as bancas de revistas,
o Teatro Municipal e a rua Barão de Itapetininga
repleta de gente de paletó escuro
e moças de vestido comprido até o joelho.
Eu não queria dizer assim
era preciso eu acho
dizer o quê?
Atravesso entre os automóveis, meu rosto magro
e meus dedos compridos como um lápis.
Mas isso não era para entrar no poema,
era apenas para ser lembrado
enquanto meu corpo se arrasta
como um caracol
que procura uma foilha úmida.
Depois eu vou à Igreja de São Judas Tadeu
que todos dizem
ser o santo das pessoas desesperadas."

-Álvaro Alves de Faria

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Abstração platônica 1

"Take a long holiday
Let your children play
If ya give this man a ride
Sweet memory will die
Killer on the road, yeah..."

Fomos uma imagem distorcida na madrugada áspera
Enlameados e marginais amalgamando-se em becos escuros tardios
Fomos neblina
Frequências recusando-se a entrar em fase
Estradas sinuosas descendo vertiginosamente para o desconhecido
Entortamos em algum lugar do infinito

E cá estamos

Sonhos intensamente chuvosos
Fomos.

Igual-desigual

"Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos

são iguais.

Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo

são iguais.

Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos

os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar."


C. Drummond de Andrade

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

AS BORDADEIRAS (DRAMATURGIA CURTA)

(Bordadeiras. Hábeis mãos que tecem estórias.)

Neide: Era valsa!
Agripa: Não, num era valsa.
Neide: Uma valsa! Tenho certeza, Dourival que é cunhado da Jossi, sabe a Jossi? Aquela filha da Dona Lurdes. Peor. Dourival viu e me contou.
Agripa: Eu tava lá Neide, vi tudo. Não era valsa. Para de morar com a teimosia.
Neide: Oh, Cristo Jesus! Que tanto querer ser dona de todas as razões no mundo. Já ta véia pra ficar cheirando coco de vaca. (Ri)
Agripa: Na flor véia, a ultima coisa que morre é o espinho. (espeta Neide com agulha)
(...)

Neide: E funcionou?
Agripa: O que?
Neide: A valsa!
Agripa: Não era valsa!
Neide: Que seja. Funcionou?
Agripa: Dum certo sim e dum outro as coisas ficam um pouco mais neblinada. Mas que era moço bonito era. Ô! Se tivesse uma eleição duns homis bonitos no mundo, esse com certeza era o segundo!
Neide: Segundo?
Agripa: É! O Primeiro é Zino, meu marido. Que Deus tenha. Virou reza. Mas esse era bonito, dava vergonha até.
Neide: Ah. Mas a moça não ficava passo atrás. Titinha até no nome já se saltava. Titinha! Juca filho de Fernanda, sabe Fernanda? Aquela que mora perto, no Onça. Peor. Juca chorava amor todo dia por ela. Pergunta se deu renda?
Agripa: Deu renda?
Neide: Deu nó!
Agripa: Pois é, sempre da dó.
Neide: E que deu do homem bonito com Titinha?
Agripa: Xi. Ficava só olhando pelos furo da cortina. Todo dia, depois da batida do final de tarde, ele passava. Já diviam ter se reparado há tempos, pois sempre ele passava posando. Me ria. Quadra e meia pra cima onde a janela dela não chegava, via sempre que ele parava e se engomava todinho, até os pelinho dos dedo ele penteava. De certo, ele jogava poses e ela sorrisos.
Neide: Aix. Ó! Até arrepia!
Agripa: Ficaram assim até que ele inventou as flores. De tempos, ele começou a parar a tropa em frente a janela dela com uma flor, cada dia de uma certa cor. Quando tinha certeza que ela via, despetalava a flor e.
Neide: Comia! Pétala por pétala. Só não comia o cabo. Ouvi dizer. Junin que era primo de consideração de um amigo de cachaça do tal moço, me disse que o amigo disse que ele fazia isso pra preparar o beijo. Dizia que só ficaria de mel com Titinha e mereceria seus beijo se a boca dele fosse pura de maldade e exalasse igual as frô.
Agripa: Óia. Que essa parte eu já num sabia. To besta!
Neide: Diziam. Continua.
Agripa: Com o passar dos tempos as coisa se embunitava de vez. Ela começou a se vestir de mais linda do que era, todos os dias, só pra ver ele passar. Cada dia um detalhe novo. Um brinco. Um colar. Um perfume. Vestido por cima de vestido.
Neide: Mire. Pra um homem que só se viu passar pela janela, nunca se conversando.
Agripa: Não deu um mês. Um mês? Menos, cada dia novo dia. Chegou num ponto em que se não podia mais de agüentar. Ele já começava a trazer um buquê inteiro de flores pra comer na frente dela. E ela já se vestia de uma única vez, todas as peças do guarda-roupa, passava todos os vidros de perfume e se usava todas as tintas disponíveis na cara.
Neide: Exagero?
Agripa: Nada. Eles tavam juntando amor. E quando ele, o amor, se atingiu nos estágio mais alto de se agüentar. Um só peito é pouco. Aconteceu a noite em questão.
Neide: Da valsa!
Agripa, olha feio: Da serenata! Tava noite de lua completa e eu que nem nada mais esperava a não ser o sono. Lá do fundo eu me pus a escutar... (cantam uma musica, que vai subindo de volume ao poucos) Tava ele lá, lindo. Fecho a rua com um chão de flores.
Neide: Não exagera, cubriu só o chão da carroça.
Agripa: E ela se vestiu com todas as roupas, de todos os guarda-roupas, de todas as vizinhas da rua.
Neide: E você ta vestindo o que agora? Não era todas?
Agripa: Ele jogou um beijo, e ela se deixou atingir. Deu passos de chuva pela rua, o que deixou ela toda molhada. Todo cheio ele, nunca que parava de cantar. Na frente da janela, ela estendeu a mão. Se tocaram pela primeira vez e se sumiram. Palavra nenhuma disseram não, pelo menos não que eu tivesse ouvido. Deixaram só pra falar com as orelhas. E baixo, bem baixo.
Neide, encantada: E o resto?
Agripa: O resto? Não se sabe. Trancaram a janela e lá ficaram. Inté hoje. Nunca que saem.
Neide: Eita. E comem o que?
Agripa: Amor, Neide. Come amor.
(...)
Neide: Agripa?
Agripa: Hum?
Neide: Será mesmo que não era valsa?

(Cantam)

do meu amigo Leandro D'Errico

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Qual é o silêncio maior do que eu?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Quando muito

Dez minutos quando muito
Pouco tempo pra parar
Não reparo quando passo
Escasso, dissoluto o olhar

Dez minutos quando muito
Pouco tempo pra parar
Quando paro é sempre afoito
Pressa imposta sem lugar.

mai/2008

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

relance


daí que ela foi-se embora sem nem ver, desenrolou depois da hora do almoço que nem aconteceu. da grama intocada pela manhã. das ondas quebrando em silêncio inquieto lá embaixo. a tempestade ainda era dentro dela.
acordava com a boca seca tinha dias fome atrás de fome atrás de mundo pois sabia que era hora de voar ou arriscar raízes.
não.
estava velha demais pra ter e levava o sol num sorriso cadente como se tivesse desníveis de saudades leves saudades de criança que sabe com as pontas dos dedos e da língua.
foi-se embora antes do por quê antes que as próprias probabilidades se abrissem com o passar dos dias que restavam.admirou pela última vez. e era sempre assim.
remexia os olhos com as cores da paisagem assim de areia branquinha de quase chorar quase que ficava rodopiando admirada das coisas. desfaleciam cheios de dentes os astros reluzidos naquele dia de janeiro
intenso
e as coisas, dimensões indeléveis delicadas. delícias envoltas em casca azedinha que nem tamarindo quando maduro.
tudo apontava e ela foi-se embora pra não passar pelo outono do que não é.
se perder pra se encontrar laranja radiante solar.
e era sempre assim apesar de não ser.

"Coagula o jorro da noite sangrenta
A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza"

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

"Só você violão/compreende porque(...)"

Vendi hoje meu violãozinho Di Giorgio pr'uma aluna minha, agora que deu tempo de refletir percebo que isso, pra mim, é o fim de um ciclo.
Eu sei lá como fui cair nessa vida de músico, de repente eu era o único na minha bandinha adolescente que não tocava porra nenhuma e só tinha a cara-de-pau necessária pra encarar o palco na frente e (fingir) cantar; mas decorar letras nunca foi o bastante, a música tinha que acontecer num todo então comecei a pegar toques do instrumento que me parecia mais próximo: O violão.
Meu pai demorou pra ceder e me comprar um violão, eu dava trabalho desde os meus 12 quando entendi que não era lá muito fã de escola e isso dificulta qualquer possível facilidade com os pais de um adolescente, mas sempre dei meus jeitos.
Passei meses e meses com violão do vizinho de cima, que eu mal conhecia, emprestado e, bem, foram aqueles meses que ninguém queria ficar do meu lado ouvindo qualquer coisa que eu tocava, e depois com o violão da irmã de uma menina que eu ficava(e que durou, tipo, uma semana...) e depois em Itapipoca rodando de havaiana, madrugada afora na rua com o velho Giannini que minha tia nunca soube dizer se foi do meu tio, que morreu quando eu tinha 5 anos, ou do meu primo, militar que se converteu ao cavaquinho.
Foram uns 3 anos dando um jeitinho brasileiro pra aprender alguma coisa(afinar, ler cifras da internet, tirar música de ouvido) quando a gente foi numa loja ao lado da rua Gravi, aonde meu pai foi criado, na praça da árvore e eu levei o Tonante, numa caixa de papelão, pra casa.
O bicho era um tanto pequeno e tinha cordas de aço quando ganhei, o que ocasionou umas bolhas um tanto chatas, alguns meses depois eu mudei pro naylon; é claro que o velho sumia com o meu violão quando o meu boletim chegava e as expectativas quanto ao jovem Pedro eram frustradas uma em cima da outra...
Lembro que eu passava tanto tempo com o violão que irritava muita gente(começava a encantar umas poucas, pelo menos), aí bobeei, fiz 17 anos e tive que fingir certeza do que eu queria na vida, passei a ter aulas de música de verdade com um professor, aprendi a ler partituras, ouvir música erudita, harmonia e aprendi que ia querer passar a vida aprendendo mais.
Então, depois dos porres de formatura do colegial, fui aprovado na primeira fase da prova prática pra faculdade de música, fiz aquela preparação marromenos, como me é costume fazer, pra entao acordar naquela manhã de janeiro meio em pânico que nada ia dar certo, então convenci minha mãe em cima da hora de ir na loja aqui do lado e comprar um violão um pouco mais decente pra mostrar serviço.
Daí chegou o Di Giorgio com a capinha de couro, não fui aprovado naquele ano então foi o ano de cursinho, sinuca, boteco, estudar piano(vendi meu primeiro violão pra professora de piano), canto e violão e me imaginar preparado pro vestibular... e o Di Giorgio com tampo de pinho barato e cordas de naylon ia comigo pra todo canto: Bar, festa, casa da namorada, casa do amigo, banheiro(!)...
Quando aí entrei na faculdade em 2007 comecei a entender que meu violão não era assim uma brastemp, aliás comecei a achar que entendia muito de muita coisa e fui levando as desilusões do primeiro ano de faculdade, até aí normal.
Agora com 21, um violão foda que eu esperei um ano e meio pra ter na minha mão, um professor de violão de tirar o chapéu, uns alunos pra ensinar, uns pedaços de unha pra roer, uns amigos pra vida toda que já foram com o vento, umas namoradas que ficaram lá pra trás e alguma responsabilidade já pesando na cabeça eu me desfiz do "pedaço de madeira" Di Giorgio e deu um negócio aqui do lado agora de lembrar do que passei com o bicho do lado.

E olha, quiçá ele dê tanta alegria pra dona de agora quanto deu pra mim, porque não nada mais musicalmente triste que instrumento engavetado.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Brisa

"Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina."

Manuel Bandeira

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sus

Num ponto de ônibus
Existindo consonantemente
Se sou chuva
fina despreocupada
Se asfalto
desgastado arrastando
Se motor
calejado a óleo diesel

Não sou de nada
Que me sobressalte

ponto no pico


Chovo, atrito, queimo
reclamo calo anseio rio durmo perco gozo espero.

Estatístico.

domingo, 5 de julho de 2009

La mer (Muro)

tardes em que o sol boceja e se espreguiça um tanto lento. o dia não diferencia de um veludo sutil. lilás granulado. noite, essa imaginação.um muro de concreto denso imenso mundo em tom de vermelho-crepúsculo.o muro é movimento vida. dimensão.catarse dura reta. curva reflexiva loo onga. curvas.cheias.rios de cores variantes infinitas correm urbanas pelos fios de alta tensão acima das casas tevês espelhos. a cidade versa histérica na melodia do tráfego constante amorfo. metrópole dentro de metrópole dentro de metrópole. fim de tarde. sol morre mais tóxico, essa imprecisão.



e aí você é o que você quiser.



http://www.flickr.com/photos/notmagenta/3618458666/

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Desencontrários

" Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto."

Leminski

terça-feira, 30 de junho de 2009

Augusto

Homem também chora
Quando entende que ausência

É sempre

Ilusiona independentemente
Cumpre a vida
Essa frágil
Despedida eterna

Homem também chora
Por não saber de si

Sozinho

Incipiência permanente
Consumido
Inconstante
Gemido em surdina

E chora de descrença
Disfarça, engole o seco

O homem

Essa angústia reticente
Contragosto
Desmedido

- Para G. Farran e H. Oliveira, a gente sempre se levanta de novo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Tema e variações

Há mais desilusão entre uma esquina e outra do que sonha a nossa vã adolescência.

terça-feira, 9 de junho de 2009

TinhamoDanutas!

O Desaparecido

''Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.
(...)
Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.''

Rubem Braga

No corpo

''De que vale tentar reconstruir com palavras
o que o verão levou
entre nuvens e risos
junto com o jornal velho pelos ares?

O sonho na boca, o incêndio na cama.
o apelo na noite
agora são apenas esta
contração (este clarão)
de maxilar dentro do rosto.

A poesia é o presente.''

Ferreira Gullar
''A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias
(do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.''

Manoel de Barros

quarta-feira, 20 de maio de 2009

vem!

pisando em astros distraída
preguiçosa leve devagando
que faltam constelações
à aprender em você.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

?

"" dOeTtEaUnAtMoOtReÉeUsMpAeMrEaNrTIRA
eQuUqEuAeMrIoNtHeAcVoAnItDaArDEQUER
dEaOsMcEhUuPvOaEsSqIuAeDaEpCaEnGhOei
dVaOsCnÊoNiÃtOePsOqDuEeVvEaRrei
nNoÃeOsPcOuDrEoVaEtRebuscar
eQuUqEuNeOrMoEtUeMmUoNsDtOrar
aUsMmTaRrOcÇaOsQqUuAeLgQaUnEhReMiORREU
nNaUsMlCuOtRaTsEcLoEnNtTrOaEoPrReOiFUNDO
nEaNsTdRiEsVcOuCsÊsEõEeUscomdeus
eOaNgOoSrSaOqAuMeOcRhAeGgEuNeTiEINVENTA
ePuRqAuSeErDoIaSrTeRcAoImRpensa
eEuQqUuAeNrDoOaApCrAeBnAdAaGiEmNeTnEsPaENSA
dQoUsEcEaLrEiNnUhNoCsAtEeXuIsSTIU ... ""

31/mar/2008

Contagem

"E numa virada de mesa,
As palavras que tinha sobre você
Viram uma frase perdida pelo vento,
'Não te quero' soa bom demais,
Tão doce quanto for o momento

Finalmente a memória cede
Deixa escapar que não lembro mais seu cheiro,
Seu toque não é indispensável,
O escuro cai bem, sem o seu sorriso

E que venham os momentos que ativam o inconsciente
Que cheguem as lagrimas que não tinha em mente
As situações que o amor abandonado não enfrente

Não sei mais se palavras sustentam a areia que voa pela vida
Áspera coberta que aconchega tremenda espera e ferida

Há tempos me preparo para o seu olhar não mudar o meu."

Hugo Oliveira
Tem coisa que não é de se explicar, não vale nem a tentativa.

E a gente vai vivendo que nem arroz grudado no fundo da panela.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Calma (4:33)

(...)
E era um silêncio delicioso, reverberava no concreto,no asfalto quente da madrugada curta,
era pleno como uma daquelas manhãs em que o sol acorda num amarelo-pós-cortejo
[Mas era madrugada.]
um contraste entre os letreiros alienígenas que perdiam o destaque para o tão esperado silêncio.

Só.

A rodoviária envolta na mística da noite pensante, paradoxal densa fluida calma final

Real?

Me pergunto até agora, mas o silêncio que ficou...

que ficou...que ficou
que ficou...que ficou
que ficou...que ficou...que ficou...que ficou...
que ficou...que ficou...que ficou...que ficou...
que ficou...que ficou...que ficou...que ficou...que ficou...que ficou...
que ficou...que ficou...que ficou...que fi...que... ficou

"
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas"

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Noite sem fim?

Sonhei com a noite.
Ela tinha uma casa enorme, com estacionamento digno de uma dessas festas enormes que acontecem por aí.
Era uma tarde tarde chuvosa, nublada e carente.
Mas eu? eu não valia nada.
Só havia a Noite, a falta e um belo plano de ação feminino.

Azar o meu.

sábado, 2 de maio de 2009

Violão/Vida

Pat Metheny - One quiet night
Ney Matogrosso/Raphael Rabello - À flor da pele
Michel Camilo/Tomatito - Spain again

hEAVEN/hELL

Não sei ser adulto.

Prova disso é a capacidade subdesenvolvida por mim de saber me colocar limites nas coisas: É tudo colocado num pedestal momentâneo que se ergue muitas vezes acima de mim mesmo. TUDO ao mesmo tempo, e o nada também, por consequência.
É um turbilhão de paixõesopçõesdecisõesobrigações , correrias, finais, destilados fermentados, começos, arranjosdesarranjosacordeserrados, gritos, unhas roídas. Tudo isso se dissolve em questão de meses, aí aparece outra sombra de inquietude pra me consumir de novo quando ainda nem entendi o que fechou ou abril[sim] sem tempo pra sentir saudade ou retornos.

Lógico, o sarcasmo sempre prevalece.

Será que eu sobrevivo até os 30?

domingo, 26 de abril de 2009

O que há

"O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço..."

Álvaro de Campos

sexta-feira, 10 de abril de 2009

10 sinceros minutos

3:26

Ela já gozou três vezes quando ele então finalmente chegou lá,
mordendo o seu pescoço e tremendo nas bases. Esgotado, desaba
em cima dela um resto só em suor ofegante, depois disso resta
uma cama molhada e o cheiro do outro disperso em tudotudotudotudo
o que resta do que já foi integridade e indivíduo.
Ele rola para o lado oposto da cama, desacelerando ruidoso
afirmativamente viril irradiante. Lindo! E como! Ela sorri e lembra
que até dois meses atrás eles eram completos estranhos de alguma forma
atraídos um pelo outro de uma maneira quase natural quase destinados
à isso quase apaixonados à primeira vista, e agora era a madrugada embalada
com sexo intenso. risadas afetadas. álcool. muito muito cigarro.
Noites quentes de janeiro, ela esquece dos problemas a data o horário,
ela esquece a cidade grande paixões frustradas mãe pai irmãos que não conheceu
professores semiótica schopenhauer e nietzche e o emprego que não aparecia
e a propagação da luz pelo meio. de repente tudo virou nomes e ele era único.
Lindo! rindo por nada com os olhos nos dela, de um castanho profundo-profundo
preto esverdeado reluzente, ele é azul, um menino furta-cor de sorriso imenso
extensão desejo cabelos encaracolados e pêlos no peito. ele é um banquete de
falsas porém lindas promessas.
Ela nem se pergunta o que se passa na cabeça dele agora.

3:32

"Liga o rádio aí"
Um solo de sax brega até dizer chega invade o quarto, desnecessário, ele ri
faz um comentário acerca de e desliga-o. "Vem pra cá". ele ri mais alto
. moleque fazendo arte. olhos nos olhos de ponta cabeça e ele aproxima a boca
lento. a barba roça no nariz dela. o beijo derrete ao passo que as bocas
se encaixam e se consomem. uma mordida no lábio inferior dele. ela percebe
que ele se arrepia e dá uma risada em resposta.

3:35

Lado a lado novamente. olhos nos olhos. não contido ele olha daquele jeito que
ela vem percebendo na última semana. está apaixonado. ela sorri de canto da boca
comedida e já achando meio chata essa coisa de olhar no olho meio aborrecida
com a madrugada e a cama e a mãe e o pai e os irmãos que não conheceu e
o corinthians e a semiótica e schopenhauer e a faculdade e o emprego que
talvez seja melhor nem aparecer e o curso de francês que ela não levou pra
frente e aquele cara imbecil que ela pegou na semana retrasada que beijava mal.
Ele ri alto, desvia o olhar pro teto se perguntando o que se passa na cabeça dela.

3:37

Mas sim, por 10 sinceros minutos ele foi o homem da vida dela.

Ela vira pro lado e dorme.

"All the lonely people, where do they all belong?"

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Feliz

Termina aqui
Essa história
De insignificar
Fica acordado
Por hora.

terça-feira, 31 de março de 2009

Entrevista

Trecho extraído de entrevista com Ana Maria Machado para a revista da Livraria Cultura, março/2009:

"Diga uma frase, um pensamento, uma reflexão.
Bom, vou dizer duas, uma do Drummond e outra do Galbraith. Este diz que gostaria de, com o trabalho dele, levar um pouco de conforto para os aflitos e um pouco de aflição para os confortados. E o Drummond diz que este é o segredo e a arte do bem viver: Uma fuga relativa, uma não muito estouvada confraternização.

Uma definição para o conceito de cultura?
Tem uma observação de que gosto muito; originalmente nem é minha, parte de uma análise etimológica que o Alfredo Bosi faz. ele lembra que toda a ocupação de um espaço para o plantio, enfim para a 'agricultura', é uma aposta no futuro. Esse 'ura' era o particípio futuro do latim: 'nascituro' aquele que vai nascer. Então 'cultura' é aquilo que vai ser colhido. cultura é aquilo que, plantado, num determinado momento, vai construir o futuro. A cultura tem um olho no futuro."

Soa um slogan, mas é tão bonito!

domingo, 22 de março de 2009

Arte como profissão 2

Uma coisa interessante nessa vida de músico profissional é que quando as pessoas te levam a sério demais você começa a perceber que na verdade é aí que não há certeza alguma.

Vide verso.

Cinzeiro

É o gosto no ar
Dessa areia de cinzas
Bagaço de um maço
Acabado

A noite que passa
Sem pressa
Ressaca, cachaça
Garganta arregando

quinta-feira, 19 de março de 2009

ÓBVIO

Fosse tão ÓBVIO

Eu seria um masoquista esclarecido
Mas em se tratando de entrelinhas

[pausas expressivas indefinidas]

Viro espera
E amanheço sorrindo por consolação

Essa neblina de vontades latentes no espelho
Essas noites suadas em vão
Essa dormência quanto ao que vai sobre a mesa
A laranja e a sede
Ceder ao instável espaço impossável.

Patria minha
Ânsia áspera

sábado, 14 de março de 2009

Professor Júlio Marcondes

Essas breves linhas aqui talvez estivessem muito mais maduras hoje se eu tivesse prestado mais atenção às coisas que você falava.
A notícia da sua morte chegou no meio de uma terça-feira a noite amigdalítica e cansada, veio-me à cabeça uma aula que você deu sobre um romance do José de Alencar e seu primeiro "orgasmo quadral" na história da literatura, dei uma risada de canto de boca e, como que de repente caísse numa constatação, entendi que nunca mais ia poder ver uma aula sua.
Me sobraram alguns e-mails, frases desconexas que soam na minha cabeça de músico com gosto por literatura, o gosto por ler Leminski (seu conterrâneo[?] idolatrado), poucas tiradas sarcásticas, sutis e geniais que só professores memoráveis sabem fazer.
Tinha tanta coisa pra aprender de você "psor"... que começo a achar que sozinho não vai dar pra escutar nelson cavaquinho com o gosto certo, com tino artístico certo, com a ironia certa; tanta coisa pra ouvir sobre poesia concreta da sua boca e rir logo depois num entendimento bobo de moleque que acha que entende das coisas...
Foi sem dar tempo de tchau...
Valeu Julião, vai deixar lembrança!

domingo, 8 de março de 2009

Precisamente?

Passou do quando
Muito, muito longe
Minutava sem viés
Sem convés, cem marias
Cheias de graça
Noites de caça
Saco sem fundo

Mundo sem dono
Vai entre as pernas
Cacos de vidro
Ruas repletas, inteiras
Perversas
Ex-tintas
Suor frizando insônia

Fria falta de fio
Na meada

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ela sim é de um amarelo forte.

O sorriso mais bonito do mundo vem de longe, mas não tão longe assim, de um lugar
à beira do resto cinza que tem nas calçadas paulistanas, onde existem crianças
em tempo integral, vagalumes enigmáticos que aparecem nos nossos sonhos cosmopolitas
às vezes e cores sem nome nenhum que uma pessoa comum possa dar.

Ela sim desliza fácil pelos arranha-céus.

Vê doce de leite no concreto frio, harmonia dodecafônica nos pombos, nos ônibus,
na multidão; extrai luz de um reflexo incógnito na janela e faz dela templo.

Ela sim entende do sol.

Não de radiação e gravitação, mas de como prender seus fios em cabelos
louros e disso então desaguar inteira em vida: Corpo, imagem, arte.


Ela sim enxerga mar em copos d'água.

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"A água me contou muitos segredos
Guardou os meus segredos
Refez os meus desenhos
Trouxe e levou meus medos"

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

...É sobretudo


Falta do que dizer
Paciência pra parar
Prosear com as paredes
Subjetivizar a própria pressa
Rotina
Circuito fechado

Resta a inquietude
Insone
Pré-desenvolvimento de um pré-assunto
E quando, depois de carnavais proféticos que também estão por vir
Há de bater na minha porta o inesperado
O mais-além
Natural e apaixonado

Qualquer dia desses.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Pechincha de amor

Uma pausa por nós
E assim talvez
Se possa dizer
Enfim
Daquilo que foi
Para nós

... Após
Pausa

Sim.

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"Pechincha de amor/mas que eu faço tanto questão/ que se tiver precisão/ eu furto" - Francis/Chico

Mais Leminski

"desta vez não vai ter neve como em petrogrado aquele dia
o céu vai estar limpo e o sol brilhando
você dormindo e eu sonhando

nem casacos nem cossacos como em petrogrado aquele dia
apenas você nua e eu como nasci
eu dormindo e você sonhando

não vai mais ter multidões gritando como em petrogrado
[aquele dia
silêncio nós dois murmúrios azuis
eu e você dormindo e sonhando

nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia
nada como um dia indo atrás do outro vindo
você e eu sonhando e dormindo"