sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A felicidade pode ser de carne

 A felicidade pode ser de carne
  de pele apenas - corpo sem cara
  nem cabeça, mas com a boca máxima
  e muitos braços, peitos, coxa
  perna musculosa, clavícula
  omoplata, ventre liso esticado
  peludo no lugar certo do sexo
  e mais o cheiro preciso, exasperado
  da axila, virilha, pé
  tudo chegando junto, de uma vez
  ou aos poucos, esquartejado.


-A. Freitas Filho

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Luz

Não sei quando foi que eu reparei, mas acho que de uma hora pra outra era ótimo ver o dia que nasceu da rede do meu quarto, na casa da minha avó, a luz que se espalhava pelas telhas lá em cima ia adquirindo as mais variadas misturas de amarelos e laranjas tão bonitas que parecia que o dia sorria pra mim; também pudera, casa de dona Maria está sempre no contexto das férias, essa limpeza na alma. Era gostoso até mesmo quando chovia e vez por outra gotas escapavam do teto e respingavam em mim, o som era uma delícia, o cheiro nem se fala. Em qualquer uma das situações a rede era quase um momento de sentir puro, um deleite sinestésico, feito o primeiro gole numa cerveja gelada em dia de calor: salvava a minha vida!

Forraram de gesso o teto todo do casarão, tiraram o doce de mim.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A burocracia prova que somos uma sociedade de preguiçosos em lidar com a nossa inter-relação fracassada.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Do que se espera

Hollywood não me falou muita coisa sobre trepar na escada de incêndio
Nem sobre meias conversas, gente que brocha 
(E você comendo cadáveres, achando que tá num filme pornô)
Gente que de tão patética nem deixa lembrança
Nem sobre  morrer de desgosto
Nem sobre banheiros públicos
Puteiros baratos
Hotéis de quinta categoria
Nem sobre uma rotina massacrante ou sobre trabalhar feito um camelo

Aliás, se eu quisesse saber sobre camelos devia ter visto mais filmes iranianos.


Shakespeare e Oswald no meio do carnaval de rua carioca.

To pee or not to pee
That is the question

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Quando aparece uma flor

Aquele seu riso de canto de boca
De quando te chamei pra dançar
Não, não foi mentira

E de repente eu te via como que deslizando pela rua
E acordando nua pra vida numa manhã quente
Te degustava de ponta cabeça
Em cima da pia
No meio da sala

Só por isso
Não pode ter sido
Mentira