quarta-feira, 28 de abril de 2010

Os ombros suportam o mundo

"Chega um tempo em que não se diz mais: Meu deus.
Tempo de abslouta depuração.
Tempo em que não se diz mais: Meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa que venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais do que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação."

-C. Drummond de Andrade

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Cárcere voluntário ou Tamara ou 2+1=0

Ao menos restavam as pequenas coisas minhas pra preocupar
Uma multa, uma conta, um atraso qualquer

Aí você chegou às juras e pontapés
Cheio de beijos e possibilidades e
Promessas de histórias pra contar

Trancou-se tudo por fora
Vedaram-se as janelas

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Que nem manequim

"Ando falando sozinho
Fingindo que é verdade
Que te encontro mais tarde

Ando ouvindo calado
Esse som do passado
E uma angústia me invade

Ando vagando, pensando demais
Já não tenho vontade
Não bebo, não fumo
Não como, não durmo
Não sei o que faço
Com essa saudade

Ando com os olhos distantes
Ausente de tudo, que nem manequim
Ando sem brilho de vida
Ando perdido de mim"

-Guinga e M. Tapajós

http://www.youtube.com/watch?v=Fxn6iYWpknk

domingo, 4 de abril de 2010

Moça do sonho

Quando o objeto de desejo não é palpável, o buraco é mais embaixo.