terça-feira, 31 de março de 2009

Entrevista

Trecho extraído de entrevista com Ana Maria Machado para a revista da Livraria Cultura, março/2009:

"Diga uma frase, um pensamento, uma reflexão.
Bom, vou dizer duas, uma do Drummond e outra do Galbraith. Este diz que gostaria de, com o trabalho dele, levar um pouco de conforto para os aflitos e um pouco de aflição para os confortados. E o Drummond diz que este é o segredo e a arte do bem viver: Uma fuga relativa, uma não muito estouvada confraternização.

Uma definição para o conceito de cultura?
Tem uma observação de que gosto muito; originalmente nem é minha, parte de uma análise etimológica que o Alfredo Bosi faz. ele lembra que toda a ocupação de um espaço para o plantio, enfim para a 'agricultura', é uma aposta no futuro. Esse 'ura' era o particípio futuro do latim: 'nascituro' aquele que vai nascer. Então 'cultura' é aquilo que vai ser colhido. cultura é aquilo que, plantado, num determinado momento, vai construir o futuro. A cultura tem um olho no futuro."

Soa um slogan, mas é tão bonito!

domingo, 22 de março de 2009

Arte como profissão 2

Uma coisa interessante nessa vida de músico profissional é que quando as pessoas te levam a sério demais você começa a perceber que na verdade é aí que não há certeza alguma.

Vide verso.

Cinzeiro

É o gosto no ar
Dessa areia de cinzas
Bagaço de um maço
Acabado

A noite que passa
Sem pressa
Ressaca, cachaça
Garganta arregando

quinta-feira, 19 de março de 2009

ÓBVIO

Fosse tão ÓBVIO

Eu seria um masoquista esclarecido
Mas em se tratando de entrelinhas

[pausas expressivas indefinidas]

Viro espera
E amanheço sorrindo por consolação

Essa neblina de vontades latentes no espelho
Essas noites suadas em vão
Essa dormência quanto ao que vai sobre a mesa
A laranja e a sede
Ceder ao instável espaço impossável.

Patria minha
Ânsia áspera

sábado, 14 de março de 2009

Professor Júlio Marcondes

Essas breves linhas aqui talvez estivessem muito mais maduras hoje se eu tivesse prestado mais atenção às coisas que você falava.
A notícia da sua morte chegou no meio de uma terça-feira a noite amigdalítica e cansada, veio-me à cabeça uma aula que você deu sobre um romance do José de Alencar e seu primeiro "orgasmo quadral" na história da literatura, dei uma risada de canto de boca e, como que de repente caísse numa constatação, entendi que nunca mais ia poder ver uma aula sua.
Me sobraram alguns e-mails, frases desconexas que soam na minha cabeça de músico com gosto por literatura, o gosto por ler Leminski (seu conterrâneo[?] idolatrado), poucas tiradas sarcásticas, sutis e geniais que só professores memoráveis sabem fazer.
Tinha tanta coisa pra aprender de você "psor"... que começo a achar que sozinho não vai dar pra escutar nelson cavaquinho com o gosto certo, com tino artístico certo, com a ironia certa; tanta coisa pra ouvir sobre poesia concreta da sua boca e rir logo depois num entendimento bobo de moleque que acha que entende das coisas...
Foi sem dar tempo de tchau...
Valeu Julião, vai deixar lembrança!

domingo, 8 de março de 2009

Precisamente?

Passou do quando
Muito, muito longe
Minutava sem viés
Sem convés, cem marias
Cheias de graça
Noites de caça
Saco sem fundo

Mundo sem dono
Vai entre as pernas
Cacos de vidro
Ruas repletas, inteiras
Perversas
Ex-tintas
Suor frizando insônia

Fria falta de fio
Na meada