quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Amar

Amar

"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."

Carlos Drummond de Andrade

Da saudade que fica...

Dedicado à quem eu amo, amei e vou amar apesar de tudo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Traumas e embalagens

À Illma. Sra. Ministra
Hoje enviei:
3 latas de bile regurgitada
Uma dúzia de rosas(Mudas)
2 meses de noites insônes
20 kg de desilusão
30 caixas de cerveja
25 ml de lágrimas
17 kg de carência
1,5 l de sêmen
1 álbum de fotografias mentais
2 gargantas atadas
3 melodias tristes
3 manhãs tão solitárias quanto se possa
5 sonhos bons

Tudo embalado com o sangue-frio propício de uma segunda-feira a noite.

Cordialmente,

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