terça-feira, 28 de setembro de 2010

Acho lindo esse negócio de "não ser tão fácil", divertidíssimo.


Agora, falando sério, dou dois aninhos pra você sair falando isso entre todas as línguas.

Canto da pobreza

"Sentas-te à beira da noite
para fazer este poema,
este poema não é teu,
é da tinta e do papel.
Mas o que é teu, afinal?
Idéia de propriedade!
Nada é teu, nem de ninguém.
Teu passado não é teu,
nem sabes o que ele é.
Na neblina do passado
quase cego tu navegas,
mas um braço te pegou,
te agarra, não larga mais.
- Este braço não é teu. -
O presente não é teu,
presente já é passado,
tu falaste, voz sumiu,
ah! nem o eco ficou.
Mas o futuro? é de Deus,
e Deus não é de ninguém.
Também não és de ninguém.
Tudo vês e tudo tocas,
tudo cheiras, tudo ouves,
nada fica nos teus olhos,
nada fica na tua mão,
no teu ouvido, nariz.
Levaste a noite ao altar,
sei que a noiva não é tua,
sei que ela também não é
do noivo que a possuiu,
ela não é de ninguém;
nem é de ti que conheces
os encantos dessa noiva
muito melhor que seu noivo.
Coisa alguma te pertence,
também não és de ninguém,
viste o mundo do telhado,
cheiraste o mundo, viraste
o namorado do mundo,
namorado eternamente:
é melhor ficar assim,
casar dá muito trabalho,
põe um número na gente,
põe um título na gente,
não se pode mais andar
desenvolto como antes,
a gente tem que prender
toda atenção num objeto,
a gente fica pensando
que é dono dalguma coisa,
que possui móvel de carne...
Mas eu não sou de ninguém."

- Murilo Mendes

domingo, 26 de setembro de 2010

In-o-ciência

Não se preocupe, baby
Siga suas necessidades
O momento

A noite curta
Ando armado
In sensibilidade

Compor

Criamos
Saímos
Com(um)s

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

.

- Eita, parece que o mundo vai se acabar...!

[Você nem imagina. Lá fora o mundo é um fim é um buraco soluço. aos tropeços eu vou pra rua beber a tempestade matar pra não morrer, eu que anseio o infinito me escorro por essas sarjetas. sujeira. nada cicatriza a cabeça que é sal na ferida, pescoço e mordida. a rua é meu desespero, meu pulo pra vida de cabeça(Eu quero, eu quero, eu quero)ou pra morte essa calma demora? eu espero mas fodo, mas como e vomito, é grito e desgaste. Estar vivo me arde como morrer e me rasga e me leva até desmaiar, viver me mastiga. não tenho tempo pra escurecer sem sonhar. Eu bebo a noite como quem tem muita sede]

-Nada não, volto tarde

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Disritmia

É calor, isso sim. Levo todos os seus gritos entre dentes.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

Agora é que são elas (Trecho)

"Com aquela cara de homem fingindo estar interessado no papo de uma mulher apenas porque está com vontade de comê-la, com aquela cara de mulher costurando e bordando pensamentos apenas porque está a fim de ser comida por ele, cheguei, caprichei, relaxei, lembrei tudo o que tinha aprendido em Kant e Hegel, repassei toda a teoria dos quanta, a morfologia dos contos de magia de Propp, o vôo 14-bis, cheguei e não perdoei: -Tem fogo?"

-P. Leminski

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Seis e pouquinho, ou nem isso. O dia rascunhava (O dia por aqui nasce feito borrão de grafite) e o ponto vazio. Só eu lá. Só eu só esperando pra ver o letreiro de outro lugar, enquanto minutava ia repensando que o começo de dia era ainda uma noite com estrelas demais. Perto demais.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Orfeu

O jabuti perdeu a companheira por causa de um ovo atravessado que nem o veterinário conseguiu tirar.

Durante meses, ficou a percorrer aflito o jardim, de cá para lá, de lá para cá, procurando-a.

Nas épocas do cio, soltava, angustiado e cavo, o seu chamado de amor.

À falta de resultados concretos, acabou por finalmente desistir da busca.

Voltou a andar no passo habitual e ficar, como antes, longas horas imóvel aquentando ao sol.

Isso até o dia em que deixaram encostado ao muro do fundo do quintal um velho espelho.

Assim que topou com ele, estacou e se pôs a balançar a cabeça de um para outro lado no esforço de reconhecimento.

Quando julgou distinguir ali a companheira, soltou, mais angustiado e cavo do que nunca, seu chamado de amor.

Repetiu-o o dia inteiro diante do vidro impassível. Porém ela continuou para todo o sempre prisioneira do espelho.

-José Paulo Paes

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

em minúsculas.

E não me venha com todo esse papo de namastê-rastafari-luz-goodvibrations-zenbudismo,




Você era mais divertida quando engolia.

Arte como profissão 3

De repente eu estava de terno, num congestionamento às 3 horas da tarde.

Por que eu fui escolher ser músico mesmo?

domingo, 5 de setembro de 2010

E mais.

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Leminski, sempre

a noite - enorme
tudo dorme
menos teu nome

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O funkeiro e o coletivo ou Black music no celular.

Filho da puta. Sub. Comp.

Barra Funda

O purgatório das 6 e meia da manhã
É movido a cotovelos