terça-feira, 30 de junho de 2009

Augusto

Homem também chora
Quando entende que ausência

É sempre

Ilusiona independentemente
Cumpre a vida
Essa frágil
Despedida eterna

Homem também chora
Por não saber de si

Sozinho

Incipiência permanente
Consumido
Inconstante
Gemido em surdina

E chora de descrença
Disfarça, engole o seco

O homem

Essa angústia reticente
Contragosto
Desmedido

- Para G. Farran e H. Oliveira, a gente sempre se levanta de novo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Tema e variações

Há mais desilusão entre uma esquina e outra do que sonha a nossa vã adolescência.

terça-feira, 9 de junho de 2009

TinhamoDanutas!

O Desaparecido

''Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.
(...)
Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.''

Rubem Braga

No corpo

''De que vale tentar reconstruir com palavras
o que o verão levou
entre nuvens e risos
junto com o jornal velho pelos ares?

O sonho na boca, o incêndio na cama.
o apelo na noite
agora são apenas esta
contração (este clarão)
de maxilar dentro do rosto.

A poesia é o presente.''

Ferreira Gullar
''A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias
(do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.''

Manoel de Barros