quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Resolução

abro a janela
manhã.
uma massa cinza
invade
o quarto
o ânimo
o prato
nada como um dia
após o outro
e outro e outro e outro e outro e outro e outro e outro e outro e outro

(chove a tarde inteira
e eu me sinto cansado)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Cerveja quente

Tento não ficar nervoso. você é um sonho de adolescente sentada perto de mim. sai daqui. não me olha. não sorri assim. não pode, não dá. esse filme eu já vi, você tem a cabeça n'outro país. não dá certo a gente se encostar. tá errado. não vem. você se achega e eu tremo, eu quero. não funciona. fala de outra coisa aí. ontem mesmo eu li uma notícia que... não é prático. não vai pra frente. a gente se engana [se embala, se embola]. não é prático. vamos ficar por aqui. pensa. esse tesão deixa a gente burro! ninguém lê um romance de pau duro. ninguém discute política com a boceta molhada. desse jeito. assim.


Vem cá, vem...

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Noite de sexta em casa.

Era meia-noite e meia quando ela me escreveu:

"Ainda estamos nos devendo um café!"

E um romance!

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Niña de fuego

Ela às vezes
 me sobe à cabeça
tão  bonita

[eu queria poder chorar
eu queria poder morrer]

.

domingo, 1 de setembro de 2013

Uma voz


"Sua voz quando ela canta
me lembra um pássaro mas
não um pássaro cantando:
lembra um pássaro voando"

-F. Gullar

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Venceremos. 


[Nem que seja só nas mesas de pebolim.]

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Será que é o contrário?

Você calada
Eu explodo
Em palavra

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Fogueira (São João '13)

Me aconchega nos
Teus cachos
Um sorriso aberto

Desperto o céu
Crepitam
Os olhos teus
Nos meus

"Tantas vezes eu soltei foguete
Imaginando que você já vinha"

sábado, 22 de junho de 2013

20jun

18h30:
Quando tinha 8 anos reparei na imponência da Av. Paulista. Lembro de me encantar com a mansão dos Matarazzo ("aquilo tem 100 anos!"), que depois virou estacionamento, hoje, num futuro breve, mais um shopping center. Perguntava à minha mãe quando passaríamos por lá de novo, aquele lugar que me embriagava a vista. Hoje a sensação foi parecida, ainda não havia conseguido ir às manifestações por conta da monografia, mas resolvi tirar um tempo antes de dar as minhas aulas para olhar o movimento. Os carros deveriam ser proibidos de andar por aqui. A cidade se desumaniza conosco entulhados dentro das máquinas, morrendo de medo de sermos atropelados, andando nas faixas de pedestre e olhando pra baixo atento às merdas e aos buracos nas calçadas. As ruas deveriam ser para andar e sentir mais. Adolescentes com as cores da bandeira nacional. Todo o tipo de grito de ordem. Um grupo com bandeiras vermelhas passa e é fuzilado com olhares e dejetos. Preciso dar a minha aula.

23h:
Muita, muita sujeira. Muita, muita polícia. Tem gente fumando maconha na frente do Center 3. Tem gente cantando Legião Urbana debaixo do MASP. Muitos cartazes com palavras de ordem e mensagens de esperança na calçada em frente ao edifício do SESI, que estava com uma projeção da bandeira nacional na fachada. Muita, muita sujeira. Tem gente que aproveita pra dar um rolé de bicicleta, tem gente que sai pra passear com o cachorro. As mulheres são assediadas com cantadas imbecis. Os moradores das ruas dos Jardins e Bela Vista não dormem, procuram comida nas lixeiras.

domingo, 9 de junho de 2013

Na última vez em que me apaixonei.

Havia um momento de glória
saindo da tua boca
que sorria
que mirava

Um cheiro quente no ar
das paredes brancas
que suavam
que sorriam

Uma vontade tenra de carnes
das bocas úmidas
que clamavam
que queriam

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Parada cardíaca

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure
vem de dentro

Vem da zona escura
donde vem o que sinto
sinto muito
sentir é muito lento

-P. Leminski

sábado, 4 de maio de 2013

Daí você pega toda a complexidade e profundidade das inter-relações humanas e sintetiza tudo em duas palavras:

"Já comi"

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Nuvem

Você eu levo

L e v e

Nuvem no verão

"Eu me desmancho suave
Nuvem no avião"

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sta. Cecília.

Acende um cigarro inteiro, judiação.
Vai ser foda dormir em cima do vômito.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Anti Martinho

Não tive mulheres
Não se pode ter alguém.
Já estive em algumas
(Nesse ponto é inevitável pensar em números, ainda que pensando assim tudo vire um punhado de nomes e corpos desconexos).
Nestas, vi minha arrogância
meu contrato de terra
minha auto declarada experiência
Irem-se embora entre os dedos
Feito areia
Feito água
De que me adiantaram contratos?

Nada permanece.
Areia.
Água.

http://fermatabreve.blogspot.com.br/2010/09/canto-da-pobreza.html

Garganta (O fim de 2008)

A vida fazia mais sentido depois de algumas garrafas de vinho, as coisas tinham mais frescor durante aquelas semanas. A rua, os horizontes, as madrugadas, as bocas, os seios... As desilusões.
Me lembro de uma enorme disposição para sentir, sentir tão profundamente que tinha gosto, que descia goela abaixo, que trancava a garganta.
Ou talvez isso seja agora.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Retiro

um peixe salta
na superfície gelada
do que não lhe
fere

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sinal fechado

Não somos amigos.
Damos risadas, contamos histórias, trocamos poemas, dialogamos sobre dialética, Stravinski, Picasso, romantismo e comida; bebemos juntos: Vinho, cerveja, cachaça (Com o vinho você ficava particularmente mais bonita), indicamos livros e discos um para o outro, nos beijamos, até de ponta cabeça. pode até ter sido amor, eu posso ter metido a língua no seu cu.
Mas não somos amigos.