domingo, 18 de dezembro de 2011

Cobertor

Porque hoje eu escolhi jogar o que acho que fomos no lixo. não é nenhum lixo glamouroso e produzido. é só um jeito de jogar fora. e já foi tarde.

[Ou até um próximo inverno]

domingo, 11 de dezembro de 2011

Para as dores silenciosas:

Tardes banhadas em ócio

domingo, 6 de novembro de 2011

Capital.

Ela sempre dizia que gostava de mim por não ser um daqueles homens produzidos em série.

Foi então que eu soube: Meu pau é manufaturado

(E nem por isso deixa de sonhar em uma linha de sexo fordista).

domingo, 30 de outubro de 2011

Perneta's lover

Pernas, pra quê? Te quero.

[Homenagem à J. Paulo Paes]

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Via Aérea

"Meu olho no topo do corpo
Espiava outra topografia
Lá do alto do meu pensamento
Era a alma que tudo asistia
Assistia ao balé do momento
Que jamais outro captaria
Um balé pleno de movimento
Sem o peso da coreografia.

E o balé todo não corpulento
No entanto dizia e vivia
E falava uma língua de vento
E mostrava ao que vinha e viria.
O meu olho no cume e no centro
Inventava uma nova alegria.

Alegria de ver não se vendo
Não vendendo ou comprando a matéria
Que o balé ia lento rompendo
Numa bela expressão via aérea
Do que o olho ao olhar ia sendo
Sem saber que era coisa tão séria
Um balé feito do sentimento
De quem tem a visão sempre etérea."

- Chico Saraiva/Mauro Aguiar

sábado, 1 de outubro de 2011

Um tom

Nossas dissonâncias soavam quentes nas noites sem sono sobre camas desproporcionais às nossas intensidades. paralelismos tão potentes que acordavam a vizinhança ansiosa pelas madrugadas tristes, sérias consequências de dias após dias de coletivos malcheirosos e anônimos numa selva concreta. a cidade esmagava a humanidade inteira em algumas semanas no tempo em que você me enlaçava como se fossemos mais do que carne e ossos. você era essa maré de brutalidade natural me talhando o corpo. me fervendo a alma.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Low profile

Entremeios, o óbvio tem seu valor.
Charme é outra coisa
Exige investigação
Charme é o sorriso
Da imaginação.

domingo, 28 de agosto de 2011

"Na véspera de não partir nunca
Ao menos não há que arrumar malas
Nem que fazer planos em papel,
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos,
Para o partir ainda livre do dia seguinte.
Não há que fazer nada
Na véspera de não partir nunca.
Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego!
Grande tranqüilidade a que nem sabe encolher ombros
Por isto tudo, ter pensado o tudo
É o ter chegado deliberadamente a nada.
Grande alegria de não ter precisão de ser alegre,
Como uma oportunidade virada do avesso.
Há quantas vezes vivo
A vida vegetativa do pensamento!
Todos os dias sine linea
Sossego, sim, sossego...
Grande tranqüilidade...
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
Que prazer olhar para as malas fítando como para nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
Dormita!
É pouco o tempo que tens! Dormita!
É a véspera de não partir nunca!"

-Álvaro de Campos

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Cidade

Em detrimento do efêmero
A cidade assassina
o firmamento
Preenchendo com concreto o horizonte
(Qualquer canto é maior do que a vida de qualquer pessoa)
A casca das árvores
Tudo decomposto em estruturas sobretudo
frágeis
De cabos
e ângulos
Para quando a noite chegar
o vazio aparentar
preenchimento
Nas estrelas,
interruptoras

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Fragilidade.

Estava com uma asa quebrada debaixo de um carro, o pequeno pardal, se debatia inutilmente contra o cimento do chão, talvez pensasse que o céu acolheria o seu esforço mínimo. Quase ri das bicadas bêbadas que levei enquanto o tinha preso nas palmas, ele continuava procurando o céu mas eu rangia os dentes oferecendo o inferno de carne, as peninhas pálidas, as bicadas cócegas. Ele morreu entre minhas mãos adolescentes sob dentes que rangiam brancos de prazer em ver a morte tão facilmente manipulável. Os ossinhos todos crepitando um a um de dor. O fim, que delícia.


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O dia em que você foi fraca eu estava bebendo cerveja em um buraco no centro da cidade quando recebi a ligação. Não que seu choro me comovesse, mas o prazer na expectativa de sentir o gosto da sua dor me fez o caminho até o apartamento cheio de sorrisos... Te encontrar aberta em lágrimas foi o pior remédio, o pior brinquedo. Demorei um bocado pra te deixar nua em meio aos soluços e te comi do jeito mais cruel que se pode ter de uma mulher, lá pelas tantas do dia seguinte o gosto da sua derrota me assombrava, a carne temperada de lágrimas, eu ruminando.

domingo, 17 de julho de 2011

Panela grande

Minha vó tem silêncios que sorriem
Feito doce de leite quente
Quando à tarde o céu escorre

"Tou vitimado no profundo poço
na poça do mundo
do céu amor vai chover
Tua pessoa Maria"

sábado, 16 de julho de 2011

Sobre vestidos e suas alças.

Num dia desses em que o calor chegar logo de manhã cedo e te despertar que nem língua inquieta por debaixo das roupas eu quero estar lá para ver você num vestido de verão, prendendo os cabelos como quem não sabe o perigo que esse seu pescoço branco oferece, aí então quando uma das suas alças escorregar pelos ombros eu vou estremecer até as pontas de todos os meus dedos e inspirar mais fundo essa brisa que a todo momento te explora numa utopia de prazeres da qual minhas mãos nunca serão plenamente capazes.

sábado, 14 de maio de 2011

Lar

Tenho uma fazenda para os dias árcades, no arco da velha, onde espero Marília chegar.
Um violão para limitar meus pensamentos à outras formas de expressão.
Um shopping center ao lado aonde repúdio meus iguais.
Quatorze gaiolas vazias, o preço da liberdade.
Um céu aberto, que não é meu
[e, talvez por isso, me faça tão leve].

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ia abrir a boca pra me justificar, mas me toquei:
Você não gosta de mim,
Você gosta do meu estilo "barbudinho sujo"

Fazer o que...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dr. Fausto

Pérfido.
Vivo os dias arquitetando catedrais de vingança.
Nas noites, choro baixinho
De medo do inferno
Preenchendo meus pulmões

domingo, 1 de maio de 2011

Há mulheres que marcam em suas qualidades morais.

Outras em habilidades orais.

domingo, 24 de abril de 2011

Mundo real.

A moça nua na revista
Me avisa com os olhos
Que é preciso desejá-la
Enquanto isso eu reflito
Sobre a liberdade
Que terei quando comprar
Um carro conversível
E conservo minhas percepções
Alteradas.
Reclamando existir
Numa mesa de bar
Acordo no outro dia para sorrir
À base de analgésicos.

A boneca

"Manhã de sol, menina vai pulando caminho da escola, uma curruíra do céu, um grilo descalço na grama. Daí o cara se chega. Dia que tem uma boneca pra ela.
-É só pegar, logo ali...
Ela está com pressa, mas vai. Uma boneca, já pensou? e de cachinho loiro. o tipo lhe dá a mão e seguem por uma trilha no mato. Ela tem medo e quer voltar. Diz o cara:
-Quietinha. Senão te pincho no rio!
É verdade.: ali o rio de águas fundas.O tipo manda que ela tire a calcinha. O que podia a triste?Só dez aninhos... Ela chora muito. Ai, como dói.
Ele sai de cima. ainda se abotoando, foge depressa. A menina se ergue, toda suja de barro - um fio vermelho desce na coxa esquerda.
Em vez da escola, volta pra casa. Tem a perninha trêmula. Muita febre. A mulher olha pra filha e tudo entende. Acha que é dela a culpa. E, para aprender, lhe dá umas boas palmadas."

-Dalton Trevisan

O gerente

"-De repente ali o grande buraco na camada de ozônio. Já se derrete a calota polar. Ai de quem não usa óculo escuro e boné.
Nunca você põe um cigarro na boca- e a vida inteira é fumante passivo, grupo de alto risco.
No teu carro, vidro fechado, já o vilão do efeito estufa. Pedestre, se afoga nos gases venenosos do tráfego.
Uma transa inocente com a linda mocinha é a peste negra: Agonia certa em três meses.
Liga a tevê: Se não a Xuxa de chupeta e babeiro, eis o Cauby na peruca de cachinho ruivo.
O alto-falante na esquina te chama pelo nome: "Salva tua alma. O senhor Jesus é a última chance. Mais informações: Disque o número..."
O culpado de tudo? É o teu maldito gerente de banco. Não sei como. Eu sei que é ele."

-Dalton Trevisan.


domingo, 10 de abril de 2011

Na fila de embarque

-Está ok senhor, tenha uma boa viagem!
-Te amo, me dá um beijo agora.
-...
-...
-...
-Tá, obrigado.

domingo, 3 de abril de 2011

Mendigar carinho só não deve ser pior do que mendigar comida.

quarta-feira, 30 de março de 2011

vamos deixar de nostalgia
esse baixo astral
garantia de sucesso é agora
na terceira guerra mundial
Ser humano é o esforço

diário

do imprevisível.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Domingo

A luz do quarto acesa lá em cima, bem acesa, eu pensei e pensei também que porra eu estava fazendo ali na rua com aquela chuva grossa, longe de casa, em pleno domingo... Domingo é dia pra passar de pijama, porta trancada, celular desligado... Domingo é dia pra ver qualquer programa imbecil na TV, pedir uma pizza e afundar na cama. Mas de qualquer forma eu estava ali do outro lado da rua, encharcado, arregalado, tinha que ser agora.
O porteiro teve um susto com o meu grito, meio surpreso, meio puto. É, domingo não é dia pra essas coisas mesmo. Foda-se.

Você me abre a porta toda sorrisos.
-Olha só, que surpresa agradável...!

Eu nem respondo, você quer um beijo, eu não... Beijo mesmo assim.
-Que, que foi?
-Eu precisava falar, não dá mais...
-Não dá mais o que?
Senta aí, que a gente vai conversar.

Dá pra sentir você engolindo seco daqui de onde estou, engole mesmo.
-Olha, foi alguma coisa que eu disse semana passada? Não foi de maldade, era porre...
-Nem, olha, não dá mais... Eu não gosto de você, acho que nunca gostei.
-Pera aí, o que é isso? O que aconteceu?
-Não aconteceu nada, é isso... Não tenho mais saco de ficar nesse protocolo todo, e pro seu bem é melhor terminar tudo logo aqui.
-Mas como assim?! O que aconteceu?!
-Nada aconteceu. Nada acontece. Não gosto de você.

[ ]

[ ]

-Bom, é isso, vou indo.
-Espera...
-Hum...

[ ]

[ ]

-É melhor eu ir agora, de verdade.
-Nem um pouco?
-Hum?
-Você não gosta nem um pouco de mim?
-Já disse que não, não acho certo continuar desse jeito...
-Nem um pouco? Então o que foi isso? O que foram esses meses?
-A gente viveu juntos alguma coisa. Foi bom. Acabou.
-Mas como? Assim do nada? A gente dormiu aqui no sofá anteontem...
-É. Foi bom, muito bom...
-Então, "não dá pra ser assim" como? Você me come e vai embora, assim sem mais nem menos?
-Te como? Isso por acaso é uma via de mão única?! Você estava me fazendo um favor por acaso? Foi bom. Acabou... E já passou da hora de eu voltar pra casa.

Me levanto, você me crava as unhas no antebraço,essas unhas... Domingo não é dia pra isso.

-Fica, isso não é certo.
-Claro que é, por que não seria?
-Porque não é. Não é assim que se termina uma coisa dessas.

[ ]

-Eu não devia ter vindo aqui.
-Mas veio, agora a gente vai resolver isso. Só não é assim...

Você me enfia a mão por dentro da calça. Cacete, como eu queria estar em casa vendo algum programa imbecil com dançarinas gostosas rebolando...

-Olha só, até parece que você queria ir embora agora mesmo.
-Para... Já disse que não quero...
-Ah, é?

Dançarinas, apresentadoras de mini-saia, campeonato paulista, pizza, as atrizes...

Eu não tenho a coragem de tirar a sua boca daí, desse jeito, eu sei. Eu sou fraco. Domingo não serve pra essas coisas, mesmo. Você olha pra mim com um sorriso de sacanagem no rosto, isso vai dar merda, eu penso...

Quando chega a hora da verdade você engole a porra toda e continua entretida comigo até eu ter aflição do meu próprio pau, puta que o pariu. Domingo.

Num arranque de realidade eu coloco a calça e vou afivelando o cinto enquanto abro a porta.

-Não dá. Desculpa... Até.

Estarrecida. É, eu disse.

Vou abrindo o portão do prédio. Atendo o celular. Domingo não é dia pra celular.

-Você vai embora mesmo? Certeza?
-Vou. Já disse.
-Volta aqui, só queria te dar um sorriso, não faz assim.

[ ]

-Pro seu bem... Guarde esse sorriso pra outra pessoa, tchau.

Meus sapatos encharcados. Que caralho, acho que esqueci a janela do quarto aberta.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Andar e pensar um pouco,
que só sei pensar andando.
Três passos, e minhas pernas
já estão pensando.

Aonde vão dar estes passos?
Acima, abaixo?
Além? Ou acaso
se desfazem ao mínimo vento
sem deixar nenhum traço?

-P. Leminski

O último som

Um eco do que eu não provei
Me descia, garganta abaixo
Nem gosto tinha, um misto de calma
Calma e desilusão, mas refrescante
Quase doce, fosse parecido
O doce me reverberando as retinas
Estive vivo
Ou quase isso.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

De barro

Houve uma primeira vez
Em que eu era descrença
E você religião
Desmistificada
Consumida na porrada
Às noites claras rechaçadas

Eu não acreditava
(E como eu queria!)
Me chapava no seu corpo,
Maria das tristes gozadas
Que por fim me converteu
Com seus olhos de ressaca

Hoje tomo café forte
Pra fingir que me esqueci
Que fiz voto de pecado
Na saliva que bebi

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ele estava, depois de umas tantas porradas, abarrotado de desilusão, desacreditado; o discurso breve:

- Daqui pra frente não me fodo pra nada, você vai ter que me engolir.

Ela, muito menos cética, levava tudo ao pé da letra.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A essência do homem segundo Arnold Schoenberg

Acordei mais cedo hoje e fui fazer uma prova de harmonia.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

True Love

Não me derramo
Embriagado
O desengano

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Janeiro sobrado

[Uma luz vinda de longe, do fundo de onde o mar faz a curva pro horizonte]

Espere um pouco mais, a noite esfriou, o bolo azedou e justamente por isso eu precisei de um querer qualquer, um carinhozinho aí. Você poderia me matar de beijos essa noite a gente se casava e ia morar no sertão da Paraíba. O tal bolo tinha recheio de chocolate, mas o dia estava tão quente antes desse frio de agora que tudo azedou inclusive a brisa,

"meu amor eu não esqueço, não me esqueça por favor"

Pense que um dia desses tudo vai parecer uma sombra de dias mais frios que azedaram. que eu te amei muito, pra valer e tão distraídamente que fui destroçado pela urgência ainda com um sorriso no rosto. Por favor, não vá ainda... Justamente agora que ficou tão frio.