domingo, 26 de abril de 2009

O que há

"O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço..."

Álvaro de Campos

sexta-feira, 10 de abril de 2009

10 sinceros minutos

3:26

Ela já gozou três vezes quando ele então finalmente chegou lá,
mordendo o seu pescoço e tremendo nas bases. Esgotado, desaba
em cima dela um resto só em suor ofegante, depois disso resta
uma cama molhada e o cheiro do outro disperso em tudotudotudotudo
o que resta do que já foi integridade e indivíduo.
Ele rola para o lado oposto da cama, desacelerando ruidoso
afirmativamente viril irradiante. Lindo! E como! Ela sorri e lembra
que até dois meses atrás eles eram completos estranhos de alguma forma
atraídos um pelo outro de uma maneira quase natural quase destinados
à isso quase apaixonados à primeira vista, e agora era a madrugada embalada
com sexo intenso. risadas afetadas. álcool. muito muito cigarro.
Noites quentes de janeiro, ela esquece dos problemas a data o horário,
ela esquece a cidade grande paixões frustradas mãe pai irmãos que não conheceu
professores semiótica schopenhauer e nietzche e o emprego que não aparecia
e a propagação da luz pelo meio. de repente tudo virou nomes e ele era único.
Lindo! rindo por nada com os olhos nos dela, de um castanho profundo-profundo
preto esverdeado reluzente, ele é azul, um menino furta-cor de sorriso imenso
extensão desejo cabelos encaracolados e pêlos no peito. ele é um banquete de
falsas porém lindas promessas.
Ela nem se pergunta o que se passa na cabeça dele agora.

3:32

"Liga o rádio aí"
Um solo de sax brega até dizer chega invade o quarto, desnecessário, ele ri
faz um comentário acerca de e desliga-o. "Vem pra cá". ele ri mais alto
. moleque fazendo arte. olhos nos olhos de ponta cabeça e ele aproxima a boca
lento. a barba roça no nariz dela. o beijo derrete ao passo que as bocas
se encaixam e se consomem. uma mordida no lábio inferior dele. ela percebe
que ele se arrepia e dá uma risada em resposta.

3:35

Lado a lado novamente. olhos nos olhos. não contido ele olha daquele jeito que
ela vem percebendo na última semana. está apaixonado. ela sorri de canto da boca
comedida e já achando meio chata essa coisa de olhar no olho meio aborrecida
com a madrugada e a cama e a mãe e o pai e os irmãos que não conheceu e
o corinthians e a semiótica e schopenhauer e a faculdade e o emprego que
talvez seja melhor nem aparecer e o curso de francês que ela não levou pra
frente e aquele cara imbecil que ela pegou na semana retrasada que beijava mal.
Ele ri alto, desvia o olhar pro teto se perguntando o que se passa na cabeça dela.

3:37

Mas sim, por 10 sinceros minutos ele foi o homem da vida dela.

Ela vira pro lado e dorme.

"All the lonely people, where do they all belong?"

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Feliz

Termina aqui
Essa história
De insignificar
Fica acordado
Por hora.