domingo, 28 de setembro de 2008

O mar tinha outras cores na maré entardecida de maio.
Ele ficou admirado de nunca ter enxergado aquele verde forte antes, o mar chamava pra lida com uma intensidade de nunca mais, a espuma brilhando num amarelo intenso ofuscante, as ondas quebrando soando no mundo inteiro, concertando com o vento forte que uivava em alguma língua de pescadores de um outro lugar, bem longe dali.
Verde-que-arde, refletindo o sorriso errado de Deus,
imenso
mundo
pleno
Cheio.

domingo, 14 de setembro de 2008

Essa fronteira

Não queria sorrir.
Mas tudo se misturava por dentro de um jeito que o rosto se contorcia em alguma espécie de tique nervoso muito esquisito.
Não queria fixar olhar, olhar nos olhos nem pensar.
Mas os olhos dela pareciam brilhar mais ainda naquela noite, eram holofotes castanhos sorrindo sem reservas; e pedindo atenção.
Não queria saber.
Mas era como se já soubesse de tudo, só de olhar naqueles olhos que não queria olhar.
Não queria perguntas.
Mas a garganta se fechava num nó de curiosidade, de saber que essa saudade não era de se explicar.
Não queria insistir. gostar engolir seco sorrir amarelo disfarçar engolir vontades. anoitecer partir mudar crescer acabar. cinza desprevenido sarcástico e cheio de saudade.
Não era mais.
Não queria.

sábado, 13 de setembro de 2008

Sobre arte como vida

Arte como profissão é uma coisa que eu ando duvidando muito ultimamente.
Explico: Não por falta de perspectiva de sobrevivência e tal, já criei certa consciência de como eu me coloco nesse mundo sendo um artista e quais as minhas possibilidades de vida, salário, família etc... dentro disso, mas por achar muito difícil de entender essa coisa do profissionalismo em arte.
Passei por muita coisa desde que entrei nessa faculdade de música e tenho claro comigo de como ser um artista exige de você a todo o momento, a arte é modo de vida, por isso acho complicado explicar profissionalismo em arte, por ser algo tão subjetivo, tão introspectivo e por diversas vezes tão pessoal.
Aliás, essa introspecção sempre me assustou, o risco de, na tentativa de encontrar as respostas em mim perder a possibilidade de comunicá-las às pessoas a minha volta, morro de medo de ser um cara de 50 e tantos anos que perdeu suas raízes e amigos em meio a toda essa dificuldade de ser objetivo e de comunicar.
Comunicar: esse é o problema em tudo o que eu faço.
Mesmo depois de todos esses processos eu ainda fico embasbacado do quanto eu não sei falar de nada, nunca tive nada pra falar provavelmente, muito menos ouvir.
Toda essa concentração, renúncia, procura e auto-controle... pra?
Mesmo quando paro pra me questionar o tempo ainda cobra algum tipo de atitude e de resposta, falta tempo... falta muito tempo...
E a gente vai vivendo que nem arroz grudado na panela...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

passa tempo

Não quero hora marcada
Quero jogar o despertador pela janela
E acordar com o dia amarelo e quente
Para então voltar a dormir
E ter sonhos na memória
(Afinal, ainda se é possível sonhar, não é?)
Como concreto em construções

Mergulhar em mim
Descobrir, talvez, oceanos
E desepero
Febres intermináveis
Rancor
Prazer
Quero meu universo, não na mão mas na boca
A sensação do agridoce se derretendo na língua
Todo o ódio impossível
Carbonizando minhas artérias
Pra hoje, não necessariamente agora

Talvez depois

[p/ Fabinho e seus presentes da Disney]

Segunda de sol

é como se o sol fosse de vidro
tão suavemente estando lá no firmamento azul
entre as nuvens de vapor e poluição
entre outros tantos bilhões de estrelas e luas
de rosas e Marianas
de Augustos e destroços
cheio e radiante, como gosto de sangue
como o primeiro amor
como um dia de sol.

Ninho

Enquanto intensa
Enquanto morna
Enquanto viva...
Você não sossega nunca!

E vive passando pelo ar
Flutuando daquele jeito seu
Aquele jeito seu...

Meu abrigo de todos os dias
Meu ninho permanente
Minha infância adulta
Meu espelho, minha alma

Minha consiência
Seu cheiro

Minha mãe

[Véio²]

Espaço da falta

Para sempre
Como se, de repente,
brotasse dali algo que sempre existiu
Como destino
(Mas destino não existe, né?!)

Logo eu, terreno infértil
Cauteloso e burguês
Logo eu que sonho todas as noites com o infalível

Com o desumano
Logo eu...

Me descubro triste longe de você
Falta de sol?
Solidão, talvez...
Tateio meu coração e te encontro lá

Para sempre
Como se de repente

[Maio 2007]

[p/Cynthia]

Antítese

Já perdi várias idéias legais por estar bêbado
Mas qual é a graça em parar agora? .

[carnaval 2007]

?

é o fato
é a foto
de nós dois
um retrato
uma rosa
um relato
relapso
num papel
digital
sem o cheiro
seu cheiro
lágrimas
e sal
e lembrar

é tudo o que fomos.

O verbo ter

Não durmo por medo
Não penso, não creio
Me olho em receio
Vazio por dentro

Não é possível possuir
Não é possível pertencer
Nem eu mesmo me domino
Sou todo nojo, calor e...

...Probabilidades

Mas eu queria que nessa noite
Tudo fosse diferente
Só por essa noite obter posse.
Mortalmente sensível
Posse.

Beijos meus
Mente minha
Olhos meus
Vontade minha

Todos os segredos, frustrações e raivas

Posse.

Tátil e palatável posse.

Vagina, saliva, pêlos e sangue...
Seus germes.
Só por essa noite.

Gênero

Ultra-feminina
Ultra não-me-toques
Cabelo longo
Louro-negro
Bronzeada em
Felicidade falsa
E consumismo lifestyle
Sexo fast-food
Sorriso agridoce
Sem tomate, por favor
Sadismo aparente
Frieza indecente

É cara,
Esse definitivamente
Não é
[Mais]
Meu gênero de mulher...

[Esse é véio]

Pelo ar

Eu flutuo

Eu flutuo e continuo...
Preso ao chão

Por que será que
Eu não posso só flutuar?
Flutuar no céu cinza desse dezembro decadente

Pelo ar

Meus pés formigam
Meus sentidos se esvaem
Minha vida não passa diante dos meus olhos

Só flutuo
E morro...
E vivo...

Pelo ar

[Natal de 2006 num avião]

[Dedicado à Fábio Figueiredo]

De saudade...

Foi então que não éramos.
Meiose em final de fermata
Desinformatados de nós um
Jovens espelhos quebrados
Vimos a beira do fim
E subimos com a vontade
De segurar no céu
E vinha o dia devagar
Rasgando a gente em cortes finos

De saudade...
Vontade dando voltas ao redor da gente
(Es)Correndo instável até os dedos do pé
Desenvolta a melodia do final
Sobram o previsível, inevitável

O rastro de gosto amargo na boca
Nos fugindo em minutos, segundos
Frágeis...

De saudade...

domingo, 7 de setembro de 2008

Pedaços de mim

Distribuí por aí
Pequenos pedaços de mim mesmo
De graça, desse jeito
Em saliva e sorrisos

Só cobrei por alguns maiores
Esses sim, admito, doados por descuido meu
[Ou seria exaltação?]
E apesar das insistências, nada me foi devolvido.

E hoje em vez de jagunçar
Saio por aí um pouco menos completo
Porém não vazio
Mas um pouco ansioso demais...

Acontece que todos os buracos
Cada desilusão e desmemória da minha parte
São pedaços ainda mais sedentos de vida
Procurando novas maneiras de se completar

Bom retiro

A quase-felicidade estática na cara de um mendigo
Tão inexplicavelmente viva
Em alguma outra dimensão
Despretensiosa e serena
Tanto urbana e quão campestre!
Nem ao leste nem oeste
Uma insolência sem medida
Desafiando a fome, a loucura
Um sorriso que agride
Desafia os pombos que revoam na praça
Irrita os vendedores por detrás das vitrines
Se impõe contra a tarde, a conversa no bar...
A televisão ligada e ele ali...
Com um sorriso que parece ter descido de algum inferno.

Dá e passa

Como será que ela fica de cabelo solto?
Como será que ela fica sem roupa...?

fragmento inacabado

Era de verbo e caos, segredo só
O cacheado circunstante em nó
Era de pedra, solidez desnecessária em pó
Repenetrando novamente a cada vez pior

Naturalmente excedido
Exagerado
Impossível de parar
Era soberbo infindo(...)

...foi você















Há muito não via estrelas
Entrelado em fumaça
Aconteceu de te ver
Na luz amarela da calçada
Realçada da noite
Encantei na hora
Dei de seguir os pés descalços com os olhos por aí
Amando cada pista sua na areia
Cada movimento de olho
Cada graça caminhada
E expectativa de sorriso
Algum sorriso seu
Que fizesse a noite se dissipar em dia
E desse vazão pr'esse desejo
Maior que a fumaça ou as luzes

...foi você

Há muito não via estrelas
Aconteceu de te ver

Reticências

-Oi...
Essa reticências nunca estiveram tão claras numa expressão qualquer.
Faltou alguma coisa.
Começaram a andar sem trocar olhares, as palavras ralas, acinzentadas, a chuva caindo de birra do céu.
É...Faltou...
De olho na calçada, molhada da noite, com uma animação quase que artificial.
Tomados os devidos lugares os entreolhares viram reparáveis, variáveis dentro daquele pé-direito enorme e cheio de luzes.
Ele quer um vinho, mas acaba desistindo da idéia ao entender que o ar não está para álcool, ela desconfia de alguma coisa.
-Mas e aí?...
A pergunta foi um engasgo, posto o hamburguer no prato, ele começa a comer e pensar.
Lá se foram três anos e nada de tempo pra realmente refletir sobre os acontecidos; afinal, o que faltou?!
De repente, se estranharam.
Não era o mesmo cabelo, os cuidados eram outros, havia uma instabilidade em se reconhecer no outro.
-Que saudade...
Aquelas reticências sugeriram alguma coisa mais forte.
Foi até lá, e mordeu o lábio inferior dela com força como de costume, quase pra arrancar sangue.
As línguas dançando juntas, se atracando com sede de fazer.
Um aperto, um gemido, cheiro de sexo por todo o corpo.
Não havia tempo nem conclusões.
Ninguém se satisfez no sábado a noite.
...

Inverteu

Hoje o dia muda
De hora em hora
Luar ao meio-dia
Preguiça das dezoito
A cidade vira caos
Em plena madrugada
Botecos lotados às nove
Doses de vodka
No desjejum
Um afeto por esquina
Um estuprador à mesa

Desse jeito mesmo
Disforme, incalculado

Vejo seu rosto
No espelho do banheiro
Não adiantou lavar a cara,
Cortar cabelo, ouvir Cartola...
Você ainda fica
Em algum lugar da retina
Debaixo da pele
Essa pele que me sai
De um corpo que eu
Não sei mais meu

Valsa[canção pré-existente à canção]

Passou de vez
Me fez pensar
Parar pra ser
E me entender

Cobriu meus nãos
Com mãos de sims
E foi simbora
Agora indefinindo o fim

Inutilmente.

fui dormir inquieto
raiva do mundo
e antes de cair
arranquei a camisa do corpo
como se isso me fizesse mais homem
a cama era quente demais
por vezes mais do que a minha cabeça
(coisas dessa minha cabeça)
não tem água, nem cachaça
não tem sexo que anule
essa obstinação ainda vai
quem fica sou eu...
De dentro do ônibus
A terra faz a translação
Transição de tempo urbana
Horas de introspecção
Resistente, tensa e poluída
Retrovisor refletindo a rotina
Retinas cansadas de pedras no caminho.

abr/08

De Leminski e Vianna

Se fosse pra planejar eu nem gostava
Nem olhava
Seguia quieto manso
Certo em minha exatidão

Se fosse pra planejar
Você nem existia
Ou talvez não nessa vida
Talvez noutra, bem de longe
Nunca que ia te cruzar
Se cruzasse não veria
Atravessaria a rua
Se olhasse era relance
Se não fosse desgostava

Fosse pra me prevenir
Você não tinha graça alguma
Crua e sem sal
Sem sexo
Seu nome, por mais simples
Nunca que me viria à cabeça
Não sorria de volta
Diria ois de educação

...Aconteceu você

O remédio foi me conformar
E não discutir com o destino
Aguentar suas passadas
Seus silêncios, seus sorrisos
Nada disso pra mim
Escapando a todo encontro
Desejando inoportuno
Palavras que brilhem inéditas
Que só você ouça
Sem saber, sem querer
Subam naturalmente à cabeça
Muito mais do que lógicas
Complexamente simples

Sendo assim, você entenda
Esse seu jeito de ir
Permanece impresso em mim
Remarcado a fundo em peito
Até outro fim.
Acordei pensando assim: Um nome sugere gosto e ação nas entrelinhas. Nisso eu to tentando falar e pensar num monte de nomes completos que eu conheço e sentir(é, acho que é essa palavra) o que eles me sugerem. Tem musicalidade, calor e gosto nisso; inspirador né?

28/jun/08
Dessa vez era eu (de novo)
Poluído, repetitivo
As mesmas letras
Mesmos medos
A raiva de sempre
Não encontrando palavras
Que expressassem o todo
Me conformei com meias vidas

mai/08

Hai Kai?

Não se espera amor
Queima as veias num veneno
Fulminante.

"Vem ser poema no árido deserto"

Abr/08
Uma noite rasgada
pra morrer no seu lugar
chorar pra te cobrir
num canto quieto e fim.

Noite ridícula
de soluços engasgados
de tendões gastos por ódio
gritos roucos de colapso
condomínio claustrofóbico

Noite falha

Pausa

Nó.

jul/08

Prelúdio

Minhas idéias viram bits rapidinho. chegam do mesmo jeito que eu processo a porrada de informação[ões?] do meu dia. há uma necessidade de comunicá-las. ou de exibi-las gratuitamente. ego?. certo que... são músicas. são textos. propostas. abstrações. imagens. mudanças. engarrafamentos. fumaça. orgasmos. encantos de 5 minutos. acordes. melodias. tratamentos. arranjos. um grito que queria muito sair. e não sabia como. madrugadas. cenários que parecem só existir na minha cabeça. e depois somem.

Um computador pra se perder tempo. ou não. e meu violão do lado.

Um quase-homem em fragmentos.

É, não garanto muita coisa.