sábado, 24 de outubro de 2009

O santo das pessoas desesperadas

"Na passarela do vale do Anhangabaú
eu vi hoje cedo pessoas escondidas da vida
embrulhadas no Notícias Populares
Diário, Folha e o Estado de S. Paulo
Depois que atravessei o Vale
percebi que minha linguagem estava solta e simples
como um vidro quebrado que a gente passa no pulso
para abreviar o futuro.
A linguagem
se fez tão próxima do poema
como se fosse uma imensa raiz furando
cada vez mais a terra para alimentar-se
e fazer da árvore um guarda-chuva.
Está doendo a dor das sombras
e a manhã é fria e clara como um lago
onde patos poderiam nadar seus silêncios.

Nada disso há no entanto
apenas as folhas e jornais, as bancas de revistas,
o Teatro Municipal e a rua Barão de Itapetininga
repleta de gente de paletó escuro
e moças de vestido comprido até o joelho.
Eu não queria dizer assim
era preciso eu acho
dizer o quê?
Atravesso entre os automóveis, meu rosto magro
e meus dedos compridos como um lápis.
Mas isso não era para entrar no poema,
era apenas para ser lembrado
enquanto meu corpo se arrasta
como um caracol
que procura uma foilha úmida.
Depois eu vou à Igreja de São Judas Tadeu
que todos dizem
ser o santo das pessoas desesperadas."

-Álvaro Alves de Faria

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