O jabuti perdeu a companheira por causa de um ovo atravessado que nem o veterinário conseguiu tirar.
Durante meses, ficou a percorrer aflito o jardim, de cá para lá, de lá para cá, procurando-a.
Nas épocas do cio, soltava, angustiado e cavo, o seu chamado de amor.
À falta de resultados concretos, acabou por finalmente desistir da busca.
Voltou a andar no passo habitual e ficar, como antes, longas horas imóvel aquentando ao sol.
Isso até o dia em que deixaram encostado ao muro do fundo do quintal um velho espelho.
Assim que topou com ele, estacou e se pôs a balançar a cabeça de um para outro lado no esforço de reconhecimento.
Quando julgou distinguir ali a companheira, soltou, mais angustiado e cavo do que nunca, seu chamado de amor.
Repetiu-o o dia inteiro diante do vidro impassível. Porém ela continuou para todo o sempre prisioneira do espelho.
-José Paulo Paes
Um comentário:
kkkkkkkk
Li esse poema ontem!
Grande abraço.
Sempre leio seu blog, meu velho!
Postar um comentário