quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Fluir.

Era completamente apaixonado pela chuva, antes de tudo, o cheiro da terra quente quente molhada. de chuva molhada. Quando não era o sol rachando sobre a testa de moleque que já fui. Quintal maior que um mundo: dar milho às galinhas, correr de medo dos gansos, admirar os porcos com pena, catar acerola do chão, comer com a mão. Era tapioca, caldinho de feijão de corda, colhada, cuzcuz. Era a tarde passando devagar, a cadeira de balanço com meu avô sentado nela... Mas era sobretudo a chuva e naquele fim de tarde choveu de lamber os beiços, a cidade inteira cheirava esfriada, nós fomos pra rua molhar as roupas, os paralelepípedos fluindo debaixo dos pés e peitos nus, infantis.

{Se bem me lembro a gente cantava alguma coisa bonita [se não, era como se fosse (Antes da música foi a chuva)]}.

Entramos no campo da AABB e travamos gols encharcados, moleques empoçados de nós, era mais gostoso que fruta do pé, era a chuva.
Desse dia nunca mais eu vi... A chuva passou por aqui e foi embora pra nunca mais; o asfalto cobriu a avenida, nunca correr descalço por aí com meus primos, é aí que a gente parou.
Magoador (o signo da água). Dia desses era eu e meu pai, alguns copos de chopp quando ele me solta:


- Você desde sempre quis o que não podia ter.

A beleza da chuva é o desmandar.