segunda-feira, 17 de agosto de 2009

relance


daí que ela foi-se embora sem nem ver, desenrolou depois da hora do almoço que nem aconteceu. da grama intocada pela manhã. das ondas quebrando em silêncio inquieto lá embaixo. a tempestade ainda era dentro dela.
acordava com a boca seca tinha dias fome atrás de fome atrás de mundo pois sabia que era hora de voar ou arriscar raízes.
não.
estava velha demais pra ter e levava o sol num sorriso cadente como se tivesse desníveis de saudades leves saudades de criança que sabe com as pontas dos dedos e da língua.
foi-se embora antes do por quê antes que as próprias probabilidades se abrissem com o passar dos dias que restavam.admirou pela última vez. e era sempre assim.
remexia os olhos com as cores da paisagem assim de areia branquinha de quase chorar quase que ficava rodopiando admirada das coisas. desfaleciam cheios de dentes os astros reluzidos naquele dia de janeiro
intenso
e as coisas, dimensões indeléveis delicadas. delícias envoltas em casca azedinha que nem tamarindo quando maduro.
tudo apontava e ela foi-se embora pra não passar pelo outono do que não é.
se perder pra se encontrar laranja radiante solar.
e era sempre assim apesar de não ser.

"Coagula o jorro da noite sangrenta
A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza"

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito e sempre...

Patricia disse...

Haja poesia pra tanta beleza