Acho lindo esse negócio de "não ser tão fácil", divertidíssimo.
Agora, falando sério, dou dois aninhos pra você sair falando isso entre todas as línguas.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Canto da pobreza
"Sentas-te à beira da noite
para fazer este poema,
este poema não é teu,
é da tinta e do papel.
Mas o que é teu, afinal?
Idéia de propriedade!
Nada é teu, nem de ninguém.
Teu passado não é teu,
nem sabes o que ele é.
Na neblina do passado
quase cego tu navegas,
mas um braço te pegou,
te agarra, não larga mais.
- Este braço não é teu. -
O presente não é teu,
presente já é passado,
tu falaste, voz sumiu,
ah! nem o eco ficou.
Mas o futuro? é de Deus,
e Deus não é de ninguém.
Também não és de ninguém.
Tudo vês e tudo tocas,
tudo cheiras, tudo ouves,
nada fica nos teus olhos,
nada fica na tua mão,
no teu ouvido, nariz.
Levaste a noite ao altar,
sei que a noiva não é tua,
sei que ela também não é
do noivo que a possuiu,
ela não é de ninguém;
nem é de ti que conheces
os encantos dessa noiva
muito melhor que seu noivo.
Coisa alguma te pertence,
também não és de ninguém,
viste o mundo do telhado,
cheiraste o mundo, viraste
o namorado do mundo,
namorado eternamente:
é melhor ficar assim,
casar dá muito trabalho,
põe um número na gente,
põe um título na gente,
não se pode mais andar
desenvolto como antes,
a gente tem que prender
toda atenção num objeto,
a gente fica pensando
que é dono dalguma coisa,
que possui móvel de carne...
Mas eu não sou de ninguém."
para fazer este poema,
este poema não é teu,
é da tinta e do papel.
Mas o que é teu, afinal?
Idéia de propriedade!
Nada é teu, nem de ninguém.
Teu passado não é teu,
nem sabes o que ele é.
Na neblina do passado
quase cego tu navegas,
mas um braço te pegou,
te agarra, não larga mais.
- Este braço não é teu. -
O presente não é teu,
presente já é passado,
tu falaste, voz sumiu,
ah! nem o eco ficou.
Mas o futuro? é de Deus,
e Deus não é de ninguém.
Também não és de ninguém.
Tudo vês e tudo tocas,
tudo cheiras, tudo ouves,
nada fica nos teus olhos,
nada fica na tua mão,
no teu ouvido, nariz.
Levaste a noite ao altar,
sei que a noiva não é tua,
sei que ela também não é
do noivo que a possuiu,
ela não é de ninguém;
nem é de ti que conheces
os encantos dessa noiva
muito melhor que seu noivo.
Coisa alguma te pertence,
também não és de ninguém,
viste o mundo do telhado,
cheiraste o mundo, viraste
o namorado do mundo,
namorado eternamente:
é melhor ficar assim,
casar dá muito trabalho,
põe um número na gente,
põe um título na gente,
não se pode mais andar
desenvolto como antes,
a gente tem que prender
toda atenção num objeto,
a gente fica pensando
que é dono dalguma coisa,
que possui móvel de carne...
Mas eu não sou de ninguém."
- Murilo Mendes
domingo, 26 de setembro de 2010
In-o-ciência
Não se preocupe, baby
Siga suas necessidades
O momento
A noite curta
Ando armado
In sensibilidade
Siga suas necessidades
O momento
A noite curta
Ando armado
In sensibilidade
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
.
- Eita, parece que o mundo vai se acabar...!
[Você nem imagina. Lá fora o mundo é um fim é um buraco soluço. aos tropeços eu vou pra rua beber a tempestade matar pra não morrer, eu que anseio o infinito me escorro por essas sarjetas. sujeira. nada cicatriza a cabeça que é sal na ferida, pescoço e mordida. a rua é meu desespero, meu pulo pra vida de cabeça(Eu quero, eu quero, eu quero)ou pra morte essa calma demora? eu espero mas fodo, mas como e vomito, é grito e desgaste. Estar vivo me arde como morrer e me rasga e me leva até desmaiar, viver me mastiga. não tenho tempo pra escurecer sem sonhar. Eu bebo a noite como quem tem muita sede]
-Nada não, volto tarde
[Você nem imagina. Lá fora o mundo é um fim é um buraco soluço. aos tropeços eu vou pra rua beber a tempestade matar pra não morrer, eu que anseio o infinito me escorro por essas sarjetas. sujeira. nada cicatriza a cabeça que é sal na ferida, pescoço e mordida. a rua é meu desespero, meu pulo pra vida de cabeça(Eu quero, eu quero, eu quero)ou pra morte essa calma demora? eu espero mas fodo, mas como e vomito, é grito e desgaste. Estar vivo me arde como morrer e me rasga e me leva até desmaiar, viver me mastiga. não tenho tempo pra escurecer sem sonhar. Eu bebo a noite como quem tem muita sede]
-Nada não, volto tarde
terça-feira, 21 de setembro de 2010
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
Agora é que são elas (Trecho)
"Com aquela cara de homem fingindo estar interessado no papo de uma mulher apenas porque está com vontade de comê-la, com aquela cara de mulher costurando e bordando pensamentos apenas porque está a fim de ser comida por ele, cheguei, caprichei, relaxei, lembrei tudo o que tinha aprendido em Kant e Hegel, repassei toda a teoria dos quanta, a morfologia dos contos de magia de Propp, o vôo 14-bis, cheguei e não perdoei: -Tem fogo?"
-P. Leminski
-P. Leminski
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Orfeu
O jabuti perdeu a companheira por causa de um ovo atravessado que nem o veterinário conseguiu tirar.
Durante meses, ficou a percorrer aflito o jardim, de cá para lá, de lá para cá, procurando-a.
Nas épocas do cio, soltava, angustiado e cavo, o seu chamado de amor.
À falta de resultados concretos, acabou por finalmente desistir da busca.
Voltou a andar no passo habitual e ficar, como antes, longas horas imóvel aquentando ao sol.
Isso até o dia em que deixaram encostado ao muro do fundo do quintal um velho espelho.
Assim que topou com ele, estacou e se pôs a balançar a cabeça de um para outro lado no esforço de reconhecimento.
Quando julgou distinguir ali a companheira, soltou, mais angustiado e cavo do que nunca, seu chamado de amor.
Repetiu-o o dia inteiro diante do vidro impassível. Porém ela continuou para todo o sempre prisioneira do espelho.
-José Paulo Paes
Durante meses, ficou a percorrer aflito o jardim, de cá para lá, de lá para cá, procurando-a.
Nas épocas do cio, soltava, angustiado e cavo, o seu chamado de amor.
À falta de resultados concretos, acabou por finalmente desistir da busca.
Voltou a andar no passo habitual e ficar, como antes, longas horas imóvel aquentando ao sol.
Isso até o dia em que deixaram encostado ao muro do fundo do quintal um velho espelho.
Assim que topou com ele, estacou e se pôs a balançar a cabeça de um para outro lado no esforço de reconhecimento.
Quando julgou distinguir ali a companheira, soltou, mais angustiado e cavo do que nunca, seu chamado de amor.
Repetiu-o o dia inteiro diante do vidro impassível. Porém ela continuou para todo o sempre prisioneira do espelho.
-José Paulo Paes
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
em minúsculas.
E não me venha com todo esse papo de namastê-rastafari-luz-goodvibrations-zenbudismo,
Você era mais divertida quando engolia.
Você era mais divertida quando engolia.
Arte como profissão 3
De repente eu estava de terno, num congestionamento às 3 horas da tarde.
Por que eu fui escolher ser músico mesmo?
Por que eu fui escolher ser músico mesmo?
domingo, 5 de setembro de 2010
E mais.
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
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